Têmis


O sol arde vermelho. O que isso quer dizer neste fim de tarde? Talvez nada. Têmis tem estado preocupada.

"Ele tem estado diferente"

No vilarejo esquecido pelo mal, ela observa Alma. A missão foi clara. Vigiá-la, protegê-la, esperar o nascimento da criança e, então, instruir a ambos. Uma missão que durará décadas. Têmis a tem feito a sua maneira. Tornaram-se conhecidas, embora longe de serem amigas. A carne mortal ainda é algo que a incomoda. O cansaço, o sono, a fome. Séculos atrás, tudo isso era familiar, mas agora voltam como memórias perdidas, sensações que parecem nunca ter existido.

O que mais lhe incomoda agora é o rumo que a fé repentinamente tomou. As novas verdades do Senhor do Amanhecer a incomodam. Toda a estranha cantilena, novos pequenos rituais; tudo tão brusco. "O sol não muda, não assim" - murmura enquanto continua a trabalhar nos pomares. Deles pode ver a varanda da casa onde Alma se encontra sentada tecendo.

"O sol não muda", repete para si mesma enquanto pensa naquela manhã em que fugiram do alcance de sua Alta Radiância. Na verdade, não foi tão difícil. Alma ainda estava assustada com tudo aquilo e Têmis apenas conduziu aquele temor para as caravanas que saiam da cidade. Aquela louca e barulhenta fé não era aquilo que conhecia quando serviu o Senhor do Amanhecer em 900CV. "Parecem heréticos!", resmungou levemente irritada.

De repente, seus olhos fitavam suas mãos. Havia cortado, em seu devaneio, a mão no galho da macieira. Então agora também suava e sangrava. "Fascinante!", sorriu enquanto voltava a fitar o sol avermelhado que se despedia no horizonte.

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