A Jornada de Ishmael - Parte 4




Foram segundos. Talvez menos que isso. Ishmael havia acabado de jogar a última pá de areia no corpo enterrado do dragão. Sentia-se bem em saber que a razão dos desaparecimentos que a jovem ranger de Chauntea, Tya, lhe informara tinha caído pela força de sua maça. A vaidade não é um sentimento comum ao paladino, mas é aos jovens, e Ishmael permitiu-se felicitar-se pelo seu próprio sucesso, apesar de se sentir muito melhor por aquele mal ter sido retirado dali.

"O mal retirado", ele pensou. Segundos. Talvez menos que isso.

A dor que o tomou não poderia ser comparada a nenhuma sentida antes ou que será sofrida no futuro. Ele sentiu uma explosão em seu peito. Uma supernova, a morte de um sol. Imerso em si, Ishmael ouviu passos correndo em desespero, uma vida tentando manter-se viva. Ou pelo menos foi o que pensou.

Lathander consome Amaunator.
Quando seguiu na direção dos passos, Ishmael viu a si mesmo. Viu-se como o jovem paladino com cicatrizes de garras de dragão e como um experiente paladino portador do kopesh dourado. Duas versões de si mesmo carregando uma criança, um bebê que é o próprio sol. Duas versões de si mesmo correndo em sua direção, protegendo o pequeno sol da grande supernova destruidora de tudo. Ele abre os braços e as duas versões o entregam o bebê. Com força e convicção ambas gritam para ele:

"Não é o fim. Não desista. Tenha esperança"

Ao tomar a criança-sol em seus braços, Ishmael corre, mas ele não é rápido o bastante para fugir desse renascer. A luz o alcança antes que ele pense em fazer qualquer movimento e ele vislumbra o deus Lathander tentando salvar a deusa da magia, mas logo consumindo este aspecto e o amanhecer se tornando um novo sol, o dia, o Sol Eterno. Um grande trono ascende da Casa da Natureza. Nele, um enorme sol se ergue. O maior que Faerun já viu. Sua luz brilha com tamanha força que divindades amigas temem. Com sua voz, ele arremessa toda a escuridão e mal em Toryl na face de bebês, seres divinos renascidos em formas humanas. A Justiça se levanta frente a ele, Heróis erguem-se indignados com o auto proclamado líder, o Protetor ressurge fazendo valer sua vigília. De nada adianta, o Sol não permite que a escuridão exista, mesmo a sombra do grande protetor agora está iluminada pela luz do Sol Eterno. Deuses são presos, outros fogem, poucos permanecem ainda imutáveis. Ishmael percebe-se vivo para ver algo muito mais grave que seus piores pesadelos.

A criança em suas mãos, no entanto, sofria. A intensa luz do Sol Eterno começava a consumir aquela vida esperando anulá-la ao tornar-se maior que ela. Para Ishmael era a mais horrenda cena: o que para ele sempre fora renovação e renascimento, estava deturpando esses significados servindo à fome de poder do sol que tudo consome. Desesperado, mas seguro de que deveria manter aquele pequeno sol vivo, o paladino arrancou de seu coração sua fé e com todas suas forças destruiu sua crença em Lathander em um forte e poderoso golpe.

Ao retornar ao mundo real, a voz de seu antigo deus foi ouvida. Este próprio apareceu e reclamou pelo seu campeão.

"Tirano" foi o que escutou.

"Vou destroná-lo" foi a promessa que recebeu.

Em retorno, Lathander tomou as armas de Ishmael e marcou um alvo em suas costas, onde podia-se ler "Herege".

Cansado. Abalado. Alquebrado. Ishmael desmaiou com uma febre capaz de matá-lo. No interior de seu espírito, no entanto, uma criança se aninhava segura e sorria enquanto balbuciava:

"Meu paladino..."

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