A Jornada de Ishmael - Parte 5


Ishmael bate no relógio improvisado de areia esperando fazê-lo funcionar novamente. Ao final do que ele acredita ser um dia, imagina ter perdido cerca de 2 horas e meia - o ciclo solar parece menor, apesar do sol em si não mais se por. Aparentemente já é seu terceiro dia de peregrinação desde que abandonou Hawke e Zarack. Tem tentado seguir pela silenciosa floresta, acompanhando cursos de rios que conseguiu reconhecer no mapa que carregava, esperando não ser encontrado por Mirklo ou qualquer outro lathanderita, mas sabendo que se perdeu pelo menos umas 5 vezes antes que sua ração acabasse e ele começasse a comer peixes e algumas frutas que lembrava ser boas, ou que sua saúde divina impedia que o matassem, mas não o salvava do gosto amargo.

Mental e fisicamente o paladino sofria. Seu coração, no entanto, era o grande vilão. Quando duvidava de sua jornada e pensava que talvez fosse melhor se entregar e encontrar uma maneira menos danosa de lidar com toda aquela situação, ele via a pavorosa imagem da maça de Mirklo sobre Zarack e aquilo revolvia seu estômago. Quando, num instante de esperança, ele viu Zarack ter forças novamente, a vitória se esvaiu com a destruição da espada de Hawke, e Ishmael percebeu que tudo que poderia fazer era sair dali com seus amigos e preparar-se melhor para um novo embate... o que ele não sabia é que havia muito mais em jogo que uma lâmina mágica.

Por mais que as irreconhecíveis entidades que saíram da espada do até então ferreiro parecessem corroborar com a decisão de Ishmael, a dor de perder essa porção dos seus era demais para Hawke e seus gritos de maldição agora enchiam os pesadelos do paladino, unindo-se às silenciosas vozes das futuras vítimas de Lucan - agora desaparecido e mais distante do seu "tutor", por isso, possivelmente mais próximo de seu nefasto futuro.
Ishmael, quinto dia de viagem
a caminho do Forte da Vela.

Ishmael sente que não foi só o símbolo de Lathander que ele despedaçou, mas o seu próprio espírito. Ele tenta encontrar razão em suas ações desde que começou sua viagem para o Encontro dos Escudos, mas nada parece realmente claro para ele, desde do infrutífero e desastroso mandato de Lathander pela busca de Shaundakul até a irracional busca de Mirklo, cujas consequências acabaram por ferir pessoas que não estão ligadas a toda essa loucura. Tudo mais parece obra de Cyric que de Lathander.

Acima de tudo isso, no entanto, ele sabe que não deve parar e segue para o Forte da Vela, mesmo com as dolorosas marcas do último embate que quase tiraram sua vida. Esperando manter a chama de Amaunator viva dentro de si ele faz orações nos três momentos do dia: amanhecer, sol alto, poente, mesmo a visão desse ciclo não sendo percebida. Durante o momento que ele acredita ser noite, ele ora a Selune com carinho, saudoso por rever sua face, e Amaunator, esse desconhecido deus, cujo etos Ishmael não tem ideia qual seja, vai aos poucos sendo moldado na mente do paladino como um patriarca justo e alegre, carinhoso com seus filhos. Um nobre e cuidadoso professor.

Com esses pensamentos e vencido pelo cansaço de sua desastrosa viagem, Ishmael dorme profundamente como há muito não fazia. O tempo finalmente tinha forçado-o a um merecido descanso. Também necessário, porque ele não faz ideia do que irá encarar quando acordar.

A Vastidão.

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