A Jornada dos Escudos do Crepúsculo - Parte 4: O Peso do Tempo

Ishmael estava preocupado. Ele perpassava as últimas horas em sua mente e era como se dias tivessem corrido, tendo o duro peso de eras inteiras. Culpou a si mesmo por não ter ido procurar Sairus quando este havia sumido de sua vista. "Ele sabe se cuidar", pensara, "vai encontrar o caminho até nós", estava certo, mas essa confiança custara mais do que ele poderia esperar.

"Nunca separe um grupo", as palavras fortes de Ivanuir soaram como um martelo espancando forte a madeira de suas lembranças.

Ivanuir. Ele via seu grupo treinando com Lithanm e lembrou de seu mestre e pai de criação. Eles lutavam contra o elfo e sentiam a frustração da derrota, mas também o prazer do embate, a alegria do aprendizado, a excitação frente a um oponente mais treinado. Sentira esse mesmo misto de sentimentos anos atrás, mas Ivanuir, na época, era mais duro, como se a vida de Ishmael dependesse de seu bom desempenho ali na arena com ele. Não poderia estar mais certo.

O grupo atacava Lithanm ao mesmo tempo, mas não como um grupo. Ishmael percebeu isso e sentiu que deveriam aprender a atuar junto, com as qualidades de um eclipsando os defeitos do outro. "Para que o grupo não se separe", suspirou.

Sairus arriscou um combate sozinho com o elfo. Um embate interessante, com o ranger mostrando técnicas que Ishmael não o vira fazer até então. Sumindo da visão do paladino que, quando voltou a vê-lo, lembrou dele junto da segunda caravana na fuga de Myth Drannor, quando o guerreiro sagrado entendeu a mentira do ranger em um sorriso. Um sorriso que soou no coração de Ishmael como um crânio sendo quebrado. As palavras de alerta de Amalia - que tanto custou em fazê-lo entender - provaram-se verdadeiras em poucos segundos com argumentos bem mais discretos. A longa discussão com o anão e o guia da outra caravana, os argumentos confusos, mas certos, que esperança nenhuma traziam, mas que tentavam, desesperadamente, colocar o tempo dentro de sua linha esperada, a fim de evitar de maneira quase ridícula que algo pior acontecesse. Em vão, a interferência já acontecera, restava aceitar as consequências.

"Carrega culpa demais no coração, Ishmael", a voz de Mystrander fisgou-o de seus pensamentos, enquanto Sairus enfrentava Hawke.

"Como mudaram tanto?", falou Ishmael virando o rosto para Hawke e Lithanm.

"Morreram e reviveram, assim como você em muitas vidas além dessa", respondeu ela com seriedade, olhando para além da alma de Ishmael.

O paladino lembrou daquele olhar quando se reencontrara com a exéquia de Labelas pela segunda vez - que também era a primeira - no corredor antes de enfrentarem o Culto do Dragão, antes de Amalia destruir os portais e ele corajosamente reunir aquela incompreensível fonte de magia criada e tentar conter seu avanço, tendo Danika como moldadora da esfera de "tempo", antes de ele tentar evitar que seus amigos morressem por aquele processo... antes de tudo dar errado e eles retornarem aos dias da queda de Myth Drannor, fazendo com que suas ações no passado os levassem a essa nova jornada ao ninho de Klauth, um dragão que ele só conhecia por canções de assustar crianças.

"Você sabe o resultado dessa jornada, não é mesmo?", perguntou ele a Mystrander.

"Sim e não. Eu vejo os milhares de desdobramentos. Cada decisão de vocês, por menor que seja, fecha e abre possibilidades.", respondeu ela.

Ishmael apertou os lábios e franziu o cenho, virando a cabeça na direção da exéquia. Ela, por sua vez, viu mais de mil possibilidades em como aquela conversa terminaria.

"Fale-me sobre Amaunator", disse ele e os dois começaram a conversar.

* * *

Algum tempo depois, Ishmael sentou ao lado de Amalia. A barda sentiu como se o paladino estivesse com o coração cansado e a mente ansiosa. Ela se perguntou se aquilo era próprio dos destinados "tocados pelos planos" ou algum traço individual de sua própria personalidade. Ele, por sua vez, perguntou a ela:

"Poderia me ajudar a treinar canto?" e havia humildade e alguma melancolia em seu tom de voz.

"Não prefere preparar-se para nosso desafio manejando armas?" perguntou ela, sorrindo.

"Amanhã talvez. Hoje eu preciso que a arte acalme meu espírito" respondeu ele.

Amalia sorriu e começou a tirar algumas notas de seu instrumento musical, balbuciando baixinho uma canção de forma de Ishmael conseguisse entender como postar seu canto.

Durante aquele instante ele deixou suas preocupações saírem em sua canção. Vislumbrando em sua inspirada canção o futuro que os aguardava.


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