A Jornada de Ishmael - Parte 3




Já é mais de meia noite quando Ishmael acorda Lucan para cumprir seu turno. Lucan levanta-se sem falar nada. Por mais que Ishmael tente e insista e mostre-se amigável e interessado não só no passado de Lucan, mas nele mesmo, o elfo não se torna mais simpático ou agradável, carregando uma mágoa tão secular quanto seu próprio povo. Noite passada, no entanto, um comentário bobo sobre alguma coisa fez com que seu companheiro sorrisse e Ishmael teve ali mais esperança em mudar o trágico futuro de Faerun.

Durante o sono, no entanto, seus pesadelos continuam, mas dessa vez não são dragões. Ishmael vê-se diferente em seus sonhos, em uma outra vida nessa mesma época. Uma armadura de sombras cobrindo seu corpo, uma mácula arrancada pela força de sua fé e magia élfica. Depois, tempos futuros, um terrível dragão tenta atacar amigos irreconhecíveis e é Ishmael, dotado de uma inesperada força e uma inabalável fé, que o segura, dando tempo para que os que o acompanham possam impedir um ritual profano. Ele não vê o resultado dessa contenda, pois é imediatamente arremessado em um instante sozinho, segundos antes de ver a deusa dracônica de muitas cabeças obliterando seu cérebro. A incomum, mas familiar figura de si próprio olha para o espectador do sonho e fala com segura certeza:

"Não é o fim".

Banhado pelo próprio sangue, Ishmael vê-se novamente entre parceiros. Na escuridão medonha criada por drows, um amigo à suas costas e uma batalha vencida. Ali ele é diferente, traz o símbolo de Horus-Re no peito, a arma dourada do deus Mulhorand o acompanha. Da escuridão mágica, é arremessado no calor de um gigante vermelho. O grande dragão, sem piedade alguma, deixa-o vivo, mas carboniza todos seus companheiros. Novamente sozinho, ele segue uma jornada de sacrifícios que teve seu fim quando um enorme grupo de celestiais dão suas vidas para que outros heróis saiam vitoriosos. À frente deles, Ishmael de Horus-Re, que com força grita para Ishmael passageiro dos sonhos.

"Nunca desista".

Sua mente, então volta o tempo, Belarns que deram suas vidas para salvarem pessoas, países, mundos. Celestiais de sua linhagem contendo inimigos, sacrificando seus sonhos e vidas para que outros pudessem sonhar e viver. Anjos com asas feitas de nomes de heróis e amigos que estiveram ligados a seu destino perdem suas penas. Um angustiante teatro de mortes familiares passa pelos olhos do adormecido paladino, passivo caminhante de seus sonhos, que nada pode fazer a não ser entristecer-se, chorar por tantas vidas perdidas. Assim, a escuridão está em volta, impossível de ser dissipada por aquele que carrega o sol em seu sangue. A dor é muito grande, corpos demais cobrem seu alvorecer.

Passos de um cavaleiro são ouvidos. Quando surge, sua armadura brilha mesmo que não exista luz naquele lugar. Ivanuir Belarn, como um pai, ergue Ishmael. Afasta-o à distância de um braço e com a expressão mais afetuosa que possui fala:

"Nada foi em vão. Tenha esperança".

Os olhos de Ishmael erguem-se com os primeiros raios do sol da manhã. Ele agradece a Lathander por essa manhã, pela mensagem de esperança que recebeu em seus sonhos. Enquanto arruma sua bolsa para continuar viagem, pede a Torm precisão em seus golpes para afastar o mal. Quando divide sua ração com Lucan, dirige-se a Ilmater esperando ter perseverança o bastante para chegar ao fim de sua jornada, e a Tyr, para que essa seja justa. Mas sua garganta seca antes de proferir o nome do Vigilante. Confuso, uma sensação terrível o toma, ele sente o olhar do Guardião, mas não se sente mais seguro com ele.

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